Seminario
Psicoanálisis y Ciencia
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Tema : El sujeto en la ciencia y el psicoanálisis
Colaboración de Flavio Eustaquio Bertelli
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Estruturalismo, Lacan ... alguns (des)apontamentos
O estruturalismo existe. Poder-se-ia dizer dele que é um pensamento sem pensadores. As estruturas se revelam, por si mesmas, através das ciências humanas.
O que vem a ser a noção de estrutura? Comecemos com o maior dos estruturalistas, Levi Strauss: "não nos ocorre comparar as sociedades aos cristais. Mas se é verdade que a passagem do estado natural ao estado cultural define-se pela aptidão por parte do homem de pensar as relações biológicas sob a forma de sistemas e de oposições (...) dever-se-á talvez admitir que a dualidade, a alternância, a oposição e a simetria (...) não constituem propriamente fenômenos que será preciso explicar, mas dados fundamentais e imediatos da realidade social, nem se deve reconhecer nelas pontos de partida de qualquer tentativa de explicação" 1
O estruturalismo constitui-se, pois, num esforço para aplicar às ciências humanas as categorias das ciências exatas.
Passemos ao largo de uma discussão interessante, mas agora intempestiva: trata-se de uma comparação entre o vocábulo estrutura e sua etimologia, quando vista em francês e em português. No primeiro, o Robert toma-a do latim "struere", e o Aurélio do latim "structura", mas em ambos o cerne está no remetimento para ordem, constituição, contextura e, principalmente, forma. Velejemos ao largo, mas não percamos a rota...
Não há por onde não associar estrutura à organização. Vários autores estruturalistas se dedicaram a não confundir os sentidos, para afirmar: a estrutura é aquilo que dá a explicação dos processos.
Quando Jean Puillon, ao apresentar um trabalho em "Les Temps Modernes" (nº246/1966), tentando achar um ponto de separação entre estrutura e organização, usa os termos "structurel" e "structural". Para o autor, uma relação é estrutural quando é determinante no seio da organização e estruturista quando pode se realizar de várias maneiras diferentes nas diversas organizações. A dificuldade de compreensão - e tradução - em português é substantiva. Uma se refere à estrutura como sintaxe, a outra, como uma realidade.
A primeira grande indagação feita ao estruturalismo foi com relação à atividade da História, tornada permanente, porque os estruturalistas negam importância à historicidade para explicar qualquer fenômeno.
Falaremos sobre historicidade e história em outro momento, neste mesmo trabalho.
Da lingüística Saussuriana tomou-se os já célebres eixos: a sincronia e a diacronia, que se escrevem assim:
O eixo das simultaneidades (AB) refere-se às relações entre coisas coexistentes, de onde qualquer intervenção de tempo é excluída; no eixo das sucessividades (CD) não se pode jamais considerar mais que uma coisa ao mesmo tempo, mas aí estão situadas todas as coisas do primeiro eixo com suas transformações.
Nas palavras de Saussure, "é sincrônico tudo o que se relaciona com o aspecto estático de nossa ciência; diacrônico, tudo o que tem a ver com as evoluções. Do mesmo modo, sincronia e diacronia designarão, respectivamente, um estado de linguagem e uma fase de evolução".
Para os estruturalistas, aqui termina o privilégio exorbitante da historicidade, o "antecedente constante". Em outras palavras, para encontrar a explicação de um fenômeno era necessário recorrer àquele que o precedia. Mais ainda, a característica do estruturalismo será a substituição da história pelo conjunto das disciplinas humanas, o que possibilitou à etnologia restaurar as sociedades sem história, isto é, sem documentos escritos.
Em sua "Anthopologie Structurale", Levi Strauss propõe uma classificação que leva em conta os pares/oposições, como observação/experimentação, consciência/inconsciência, estrutura/medida, tempo estatístico/tempo irreversível, tempo reversível/tempo mecânico.
A Antropologia encontra aqui seu estatuto e reconhecimento, mas ainda falta realizar seu grande sonho, que só a Lingüística poderia propiciar: a certeza das ciências da natureza.
Assim como na lei da Incerteza de Heinsenberg , o estruturalismo evidencia a mesma relação: quando se conhece a estrutura não se conhece o processo de sua formação, quando se conhece o processo, não se conhece a estrutura.
Para Lacan, o interlocutor modifica a relação entre o código lingüistico - o que a coisa quer dizer - e a mensagem (o que eu quero dizer).
Com Jakobson o paralelismo entre a física e a lingüística vai mais longe, permitindo que o estruturalismo (ou a lingüística?) dê preferência a tomar por objeto de estudo o interior das sociedades, mais que seu exterior. É o mesmo que poder dizer: encontra-se na antropologia uma estrutura matemática.
Furet diria que "o estruturalismo floresce com o fim das ideologias", assim como as práticas estruturam-se na explicação e não estruturam a explicação.
Em sua negação ao funcionalismo de Malinowsky, Levi Strauss prega o apolitismo da ciência, na forma de afastamento (distância) para com a ação. 2 Devemos lembrar Fukuyama com seu "fim da história?"...
Escreve Levi Strauss: "As ciências humanas receberam das ciências exatas e naturais a lição de que se deve recusar as aparências se se pretende o mundo, ao passo que as ciências sociais se prevalecem da lição simétrica segundo a qual deve-se aceitar o mundo se se pretender modificá-lo"(...) "Porque as leis do pensamento, primitivo ou civilizado, são as mesmas expressas na realidade física e na realidade social, que por si não passa de um de seus aspectos" (Aletheia, nº 4).
A semi-reciprocidade dos modelos das ciências da natureza e das ciências humanas será sempre defendida por Levi Strauss. Reducionismo científico, poder-se-ia afirmar, sem suspeição.
A linguagem, em seu funcionamento, é um conjunto autônomo e sistemático. O material liberado é organizado através da língua e da palavra articulada. Lacan vai muito mais longe, eis um ponto. A tão famosa dança das abelhas não será considerada uma linguagem porque são apenas sinais.
Faz-se lingüística sob dois registros: o arbitrário e o determinista. As linguagens são convencionais, não existindo qualquer vínculo entre um som e o sentido que ele pode assumir. A língua está submetida a todas as condições naturais dos fenômenos humanos.
Nunca se fala ao acaso. A palavra humana se desenrola segundo uma ordem, universal, com a lingüística operando numa comparação constante, para constituir o sistema de todas as línguas, reduzindo-as a estruturas elementares: fonéticas - os sons, morfológicas - as formas, sintáticas - a ordem das palavras, semânticas - a ordem de sentidos.
Reparemos em Georges Munin, que deve saber do que fala, pois é considerado um dos grandes. "Em lingüística a palavra estrutura não tem profundidade metafísica. Significa essencialmente construção no sentido comum do termo.(...) " analisar a estrutura desta mesa significa procurar as unidades verídicas da construção desta mesa, desmontá-la peça por peça de modo a poder montá-la de novo como mesa" (grifo do autor). 3 "A estrutura existe porque há escolha nas disposições das unidades, no critério da função, noção fundamental da lingüística estruturista 4
"Sempre que se fale de estruturalismo nas ciências humanas, sem falar ao mesmo tempo de funcionalismo, pretendendo-se servir dos modelos fornecidos pela lingüística estruturista, dever-se-á temer que se trate de pura tagarelice ou mesmo psitacismo absolutamente fútil" (...) "pois bem, mostrem-me um modelo lingüistico e um modelo antropológico equivalentes ou idênticos!" 5
Lacan parece ter compreendido bem isto: "o inconsciente é estruturado como uma linguagem", com todo o alcance ambíguo deste como.
Onde está a objetividade quando alguém fala? Será que na entrega da mensagem envelopada de pessoal? A resposta não se funda em critérios de discurso ou do estilo, mas no reconhecimento de que a linguagem é um sistema, sistema da língua e das coisas que ela significa, das relações instituídas pelos homens. Também é um sistema coercitivo, porque tem classificações, regras, tipos que fazem jogo: alguém pode dizer, uma árvore é o jacarandá? Não, diz-se o jacarandá é uma árvore.
Somente por isto é que todos podem compreender-se mutuamente no interior de um determinado sistema, com a unidade fundando-se no que Levi Strauss, recorrendo a Trubetzkej e Jakobson, chamou de sistema dos erros diferenciais.
Para o estruturalismo, a noção de separação é a que conta, é a noção absolutamente fundamental, pois se a linguagem não é identificante, por outro lado ela cria diferenças, o que Lacan leva às últimas conseqüências. Na linguagem, por que atua no interior de estruturas com níveis universalmente válidos, toda palavra articulada cultiva, em primeiro lugar, um não, uma cautela, uma sutil e profundíssima recusa: eu não digo isto...
Tal como a psicanálise, a linguagem afirma e nega o tempo todo, e o que nega é mais interessante do que o que afirma, à medida que toda negação não passa de uma posição de sentido oposto. Da forma como são aparentemente concebidas, a afirmação e a negação encontram-se num magnífico isolamento. Eis aqui a tão decantada ambivalência heróica, a "hýbris", de que nos falam a Odisséia ou a Ilíada, ou Antígona ou Alceste. Uma lingüística relacional substitui os pares de oposição sim/não, identidade/diferença, concebidos ao mesmo tempo como separados e como referindo-se um ao outro,
Não estaríamos muito próximos do que Freud chamou de Verneinung? 6
Dentre tantas citações de Benveniste, grande lingüista que trabalhou com Lacan, uma chamou minha atenção de modo muito especial:
(...) "todos os momentos essenciais da língua têm um aspecto descontínuo e põem em funcionamento unidades discretas". 7.
A questão das estruturas clínicas, quando apresentadas fundamentadas nos textos ou captadas nas falas e no ensino de Lacan, o são de forma reducionista e com um determinismo que o próprio Lacan buscou superar com o desenvolvimento de sua magnífica obra. A citação de Benveniste já autoriza a percepção, naquela época, da condição necessária do entrelaçamento borromeano, que superou os matemas para os quais a topologia sui-generis foi necessária.
Encarar neurose, perversão e psicose dentro do paradigma lingüístico-estrutural, como sistemas fechados, não me parece seguir o pensamento freudiano, pelo fato de entender que possa haver uma característica discreta, um "continuum" em cada um destes subsistemas, de forma, inclusive a se articularem para permitir uma direção de cura, talvez mais complexa, mas também mais coetânea com a estrutura como realidade, não como sintaxe, como mencionado alhures. Não seria possível, por exemplo, uma foraclusão sem psicose super determinada? Em outras palavras, o tratamento como sistema fechado ou em subsistemas obrigatoriamente separados, sem nenhuma possibilidade de intercessão, não me parece ter uma boa relação com a clínica e com o saber freudiano, ou até mesmo com o ensino de Lacan.
Quando a falha da metáfora paterna leva uma mulher (gênero) a comportamentos homossexuais, ela estaria, determinantemente, dentro da estrutura perversa? A grande dificuldade do diagnóstico diferencial da(o) histérica(o), que tem idéias delirantes ou alucinatórias, é outra questão que faz pensar. Pensar, por exemplo, em Jaspers, quando descolou-se do conservadorismo psiquiátrico, na área da delusão, apontando a idéia delusional como referente que fazia diferença, no diagnóstico.
Ademais, se a psicose tem substância no pensamento, com fragmentação do ego, não seria possível um forcluído ter seu ego fragmentado não a gosto tão somente da psicose? Ou, não poderia haver um gradiente onde exista uma foraclusão?
Deste des-apontamento surge uma grande inspiração para discussões contemporâneas, as quais gostaríamos de voltar em outras oportunidades.
Como na física, o modelo será útil em lingüística. Seria o caso de se perguntar: um modelo poderia ser tanto de coisa quanto de palavras? A noção toma o viés da ciência natural, o conjunto de modelos formará o sistema da língua e não sua história Assim se expressou Saussure: "A lingüística sincrônica se ocupará das relações lógicas e psicológicas que ligam os termos coexistentes e formadores de sistemas, tais como são apercebidos pela mesma consciência coletiva" A lingüística diacrônica "estudará, ao contrário, as relações que ligam os termos sucessivos, não apercebidos por uma mesma consciência coletiva e que se substituem uns aos outros sem formar sistema entre si." 8
Vamos pois prosseguir, tentando escrever, ainda, como um estruturalista , porque de suas escritas vamos retirar os tópicos que se seguem. Antes da década de 30, a idéia era de que o passado foi grávido do presente, este está grávido do futuro, tal como uma continuidade genética.
No Iluminismo, a idéia de um antes situado na história levará o hoje a ser melhor e o amanhã será melhor ainda, porque a liberdade vencerá a tirania e as trevas serão dissipadas. Já se viu chamar isto de filosofia maçônica de Mozart, e de pensamento magistral de Pascal. O progressivismo torna todo o conhecimento historicizado, sobretudo quando Hegel nos deu o esquema de uma história que refaz infinitamente suas sínteses, por uma série de negações sucessivas.
Assim, surge a idéia de um estudo filosófico do homem, ou de uma antropologia geral 9, nas palavras de Cassirer. Em Kant isto se materializou. Para Cassirer, as matemáticas são o método de análise das idéias jurídicas porque o direito é uma construção. 10
O estruturalismo vai abrir seu caminho a partir da queda da concepção de infância científica da humanidade, da mentalidade pré-lógica e formas inferiores de explicação. Nele o espírito humano se constitui pelo invisível da lei e do cálculo. Impõe, também, a noção de sistema fechado.
O comparativismo, na religião, foi elemento importante. Deve ser destacada a figura de um mitógrafo e estudioso das religiões: Georges Dumèzil. A publicação, em 1966, de "A Religião romana arcaica" , traz uma tese muito interessante: a lingüística e o estudo comparativo das religiões na Índia e em Roma demonstram que a sociedade indo-européia constituía-se de três castas - padres, guerreiros e artesãos - correspondendo às três divindades romanas, Júpiter, Marte e Quirino, surgindo a possibilidade de estabelecer a continuidade entre a herança indo-européia e a realidade romana. Nem mesmo o autor poderia supor que este conceito de herança seria uma noção fundamental do estruturalismo. O método da pesquisa toma à lingüística - ou encontra nela - sua direção geral.
Ainda dentro do campo da antropologia, deste saber geral preconizado, será preciso lembrar uma fase que vai de Durkhein a Levi-Strauss, ou se se quiser, da importância de se olhar para a mentalidade primitiva, para o pensamento selvagem. Os autores que vão dar luz a esta vertente são, dentre outros, Frazer, Le Bon e Mauss, influentes personalidades nos escritos sobre a cultura, de Freud.
Se o pensamento estruturalista bebeu na fonte, sobretudo de Mauss, Freud, como sempre, trilhou o caminho da originalidade quase solitária, buscando argumentos para sua invenção revolucionária, a psicanálise. Durkhein, com suas "Regras do método sociológico", encontra no conceito de sistema sua episteme e o papel inconsciente das representações sociais, preparando o caminho do confronto entre a Sociologia e a Psicanálise.
A grande vítima desta nova abordagem é a dialética, o grande vencedor é o sistema. Em outro local abordaremos como Lacan se colocou entre os vencedores, porque seus ensinamentos só poderiam ter substância teórica no ideal galileliano da tradução do conhecimento em literalidade matemática.
Antes de chegar ao estruturalismo em Lacan, façamos um pouco de letra com Levi Strauss, extraordinário intelectual e pensador que pode personificar o estruturalismo.
A vulgata tem duas funções distintas, quais sejam, de um lado publicizar, expor à crítica a criação intelectual e, de outro, permitir enxertos e projeções sobre os quais o autor original não pode ter responsabilidade.
A crítica à visão a-histórica da análise estrutural é por demais conhecida. São célebres as grandes discussões teóricas, mantidas sobretudo na França, cujos expoentes são Sartre, Bataille e Lefebvre. Existiriam, por acaso, povos sem história, indivíduo sem história? A este respeito, numa carta à redação do "Cahiers de Philoshophie", LS expunha que "não se faz uma boa análise estrutural se não se faz primeiramente uma boa análise histórica" , e pondera mais: "se nós não fazemos uma boa análise histórica no domínio dos fatos etnográficos, não é porque a desprezamos, mas porque, infelizmente ela nos escapa" 11. Devemos chamar Althusser para falar? 12
Em "Tristes Trópicos" LS trabalha com altíssimo grau de abstração. A articulação é feita toda por sistemas e tudo se relaciona. " Poucos povos são tão profundamente religiosos quanto os bororos, e poucos possuem um sistema metafísico tão elaborado", diria. Já em "Estruturas elementares de parentesco", LS mostra que não existe homem natural, a natureza é o que é dado: o homem a assume por uma cultura. O que é universal no homem decorre da natureza e a cultura se apresenta relativa e singular.
"A proibição do incesto é o processo pelo qual a natureza a si supera e acende a centelha sob a ação da qual uma estrutura de novo tipo e mais complexa se constitui e se superpõe às estruturas mais simples da vida animal, integrando-a. Ela age, e por si mesma constitui o advento de uma ordem nova.", continua LS.
Há pois um fato natural que é a consangüinidade e um fato cultural que entra em seu lugar: o noivado repete um aspecto que Saussure atribui às palavras: o arbitrário. Isto significa que ele é imposto convencionalmente. É uma lei pela qual a organização entra em lugar do acaso. Ademais, a partir do momento em que o grupo vai procurar suas mulheres fora do seu âmbito (o que se chama exogamia), presencia-se um progresso social, visto que grupos mais vastos integram-se uns nos outros.
As mulheres, além do mais, constituem, na hierarquia das trocas, o bem por excelência. Através delas a passagem da natureza à cultura remete ao surgimento da Instituição. O casamento, por exemplo, integra um sistema de serviços. Em questões de casamento é preciso sempre dar e receber, e onde a compra é superada, começa a existir uma relação de troca. Mauss já se permite considerar a troca um ato que não era uma seqüência natural dos impulsos humanos.
LS coloca isto num nível onde seja possível formular uma regra (os esquemas). A estrutura revela-se como mecanismo operatório: o que se passa com os homens deve poder ser objetivado. Nesta estrutura operatória inconsciente acha-se o vínculo entre o eu e o outro, e o que nos revela a realidade é o sistema de porte matemático, não a existência.
Aliás, LS não nega ser tributário de Dumèzil e de Marcel Mauss.
Eis porque chamei fazer letra de LS. L de Levi, mas também de Language e de Lacan, com o significante Linguistique, S de Structurel, ponto de partida Saussure, para Significado e Significante, invertidos, na notação criada por Lacan. Propositadamente, fui pinçando na obra de LS as palavras formando frases que lembram, pela similaridade, formulações lacanianas - seja pelas lógicas matemáticas, seja por especulações filosóficas, seja por uma ideologia brilhante, pouco importa.
Antes do viés topológico, do salto do nó de borromeu, a notação primeva poderia ser assim, conjuntiva, como pedia a posição estruturalista, jamais abandonada e fundante para o que viria mais tarde:
Inconsciente Estruturado como uma linguagem
Em que Jacques Lacan seria, pois, estruturalista?. Para o retorno a Freud seria necessário passar pelo estruturalismo de Levi Strauss? Esta pergunta, importante, só poderá ser respondida numa outra oportunidade. Chamarei Lacan de estruturalista, nesta época, pela recusa sistemática de reconhecer a história como algo diferente da sincronia, pela continuada utilização dos conceitos da lingüística estrutural e, mais tarde, sobretudo, pela rigidez com que acreditou nos sistemas fechados para amparar sua teoria de estruturas clínicas.
Jacques Lacan se diz psicanalista freudiano rigorosamente ortodoxo. Vai encontrar LS, assim como encontrou Husserl, Hegel, Marx ou Heidegger. Sua obra é seu estilo.
"Freud mostra que o inconsciente fala em toda parte e nos ensina a decifrar sua linguagem no sonho, que é um enigma, nas neuroses em que o sintoma é o significante de um significado recalcado da consciência, e na loucura, esta palavra que se recusou a se fazer conhecer, este contexto sem tema " 13, nos diz J. Lacroix.
Jacques Lacan encontra em Levi Strauss um parceiro legítimo, para fazer da estrutura, sobretudo vinda da Lingüística, um novo paradigma, propiciando à psicanálise um status científico, numa época em que as ciências sociais se debatiam entre o funcionalismo de Malynowsky, a metrificação Durkheiniana, a vulgata marxista do materialismo dialético de viés stalinista. Na psicanálise, forte corrente americana tomava de Freud seu magistral potencial de subversão à conformidade do homem submisso - e adaptado - vulgarizando-a, também, na psicologia do ego.
A lingüística estrutural, a decorrência de poder separar - os sistemas - co-move(m) Lacan. Há que se repetir, embora a repetição seja a ameaça da morte. A estrutura é repetitiva, mas permite encontrar o símbolo, e a função simbólica nos superdetermina, eis Lacan, como diz Milner, pois o salto vem com o nó borromeano.
. O significado insinua-se no significante, o contexto é que decide. Seja a formulação:
que não é de Lacan, mas que ilustra as variações diferenciais do significado. A cadeia significante de uma estrutura fundamental é a de falar entre-linhas. Pois não é a metonímia que faz a ligação do estruturalismo em Lacan, nesta fórmula?
Até aqui nossa pesquisa procurou encontrar substância nas obras contemporâneas ao Lacan das publicações e falas de 50/68, mesmo com as dificuldades de acesso à literatura desse período, com traduções, quando existentes, bastante problemáticas. Meu propósito foi demonstrar que, desde seus primeiros escritos, Jacques Lacan, além de causar uma enorme rebuliço intelectual na França, era considerado um estruturalista, no método e na concepção.
Para além do estruturalismo ele vai buscar, no desenvolvimento de sua obra, lastro em Descartes, no Hegel de Kojév, em Husserl, em Heidegger e em Koyré, para sua aproximação com as ciências duras.
Em "Lacan com Galileu ou uma ciência a procura de uma idioma", artigo publicado pela revista Acheronta, número 6, dezembro de 1997, Gilson Ianini discute a problemática do que chama a "vertente estrutural do pensamento de Lacan."
Para o autor, a retomada dos fundamentos da obra freudiana deverá ser capaz de estabelecer o lugar fundamental que a linguagem ocupa no empreendimento psicanalítco, sem detrimento de sua vocação científica.
A importação conceitual - no caso, termos como estrutura, significante etc. - deve ser entendida não em seu sentido original, mas no campo onde este conceito será implantado (grifo nosso). Tais termos funcionariam como adubo, não como semente.
Ianini vai fazer sua leitura a partir, basicamente, de "Função e Campo da Fala e da Linguagem em Psicanálise".
Se nem o próprio psicanalista sabe explicar os princípios que governam o campo de sua experiência, os conceitos desta experiência somente podem ser corretamente avaliados se orientados a partir do campo da linguagem, Com efeito, "Afirmamos, quanto a nós, que a técnica não pode ser bem compreendida, nem, portanto, corretamente aplicada, se se desconhece os conceitos que a fundam. Nossa tarefa será de demonstrar que esses conceitos não tomam seu sentido pleno senão ao se orientarem num campo de linguagem, senão ao se ordenarem à função da fala."
A partir de 1953, a linguagem deixa de ser um meio para constituir um campo: o campo epistêmico-conceitual onde se definem a estrutura e os limites tanto da teoria quanto da praxis psicanalítica. Aqui o sujeito vai se definir na linguagem e não mais de onde tradicionalmente se o definia: na consciência, na vontade, na psique.
Ademais, a linguagem incidirá , enquanto limite, na própria elaboração conceitual da psicanálise, implicando mudança nos seus quadros de referência: não mais a biologia, a física, ou a economia, mas a matemática, a lingüística, a etnologia. Tal qual esboçamos atrás, o encontro de Lacan com a estrutura é uma forma de dar estatuto de ciência ao saber freudiano. Vale dizer, "ou a psicanálise é capaz de retomar os fundamentos que ela toma na linguagem ou ela perder-se-á na confusão das línguas".
A psicanálise é, então, "uma ciência, melhor, um discurso à procura de um idioma". Nela habita uma certa ambigüidade conceitual, como bem disse Lacan:
"Numa disciplina que deve seu valor científico somente aos conceitos teóricos que Freud forjou no progresso de sua experiência, mas que, por serem ainda mal criticados e conservarem por esta razão a ambigüidade da língua vulgar, aproveitam dessas ressonâncias não sem incorrer em mal- entendidos, parecer-nos-ia prematuro romper a tradição de sua terminologia"
Mesmo mantendo uma correlação muito forte aos conceitos freudianos, Lacan não deixa de inserir uma série de conceitos novos, tornando sua terminologia cada vez mais autônoma e independente, Por não encontrar, muitas vezes, étimos epistemológicos nos conceitos elaborados por Freud, declara:
"(...) temos de nos aperceber de que não é com a faca que dissecamos, mas com conceitos. (grifei). Os conceitos têm sua ordem de realidade original. Não surgem da experiência humana.(...) Toda ciência permanece, pois, muito tempo nas trevas, entravada na linguagem."
Tudo o que Lacan queria, em 1953, era trazer a discussão da teoria psicanalítica do campo da psique para o campo da linguagem, ou passar do domínio do aparelho psíquico, da vida mental e da representação, para o domínio do aparelho de linguagem, do sujeito e do significante, nem que para isto tivesse que sair do paradigma da consciência, a partir de Descartes, para o da linguagem, "do qual o século XX é, a um tempo, agente e testemunha." 14
Com efeito, o viés econômico só aparece à medida que lê Freud, não como uma exegese, embora tenha sido obrigado a fazê-lo muitas vezes. A terminologia lacaniana vai por outro sentido, o sentido do estruturalismo: sujeito, objeto, objeto a, significante, alienação, saber, verdade, até chegar aos matemas.
Ianini continua: ao se falar que a psicanálise se funda na linguagem, será preciso perguntar: de que espécie de fundamentos se trata aqui? "O que quer dizer fundar-se na linguagem? Não seria mais conveniente falar em justificação?" "Em Lacan, trata-se de um pouco mais e de um pouco menos que justificação: um pouco mais, (...) quando se trata não de mostrar a coerência interna ou a aplicabilidade dos conceitos, mas a condição de sua inteligência. Um pouco menos, quando não se trata de provar a derivação a partir de conceitos primitivos ou apresentar critérios empíricos de verificação." Trata-se de fundamentar definindo uma "estratégia de inteligibilidade apropriada à psicanálise, fundar um campo capaz de delimitar seu domínio, ou um campo epistêmico" (grifei).
Fazendo uso da alegoria, Ianini compara os desideratos de Galileu e Lacan. Se aquele propõe que a linguagem da natureza é a linguagem dos números, Lacan fortalece a hipótese do inconsciente , mostrando que se a psicanálise quiser pertencer ao universo da precisão, não deve ultrapassar o campo da linguagem, mesmo que ao tentar tratar daquilo que estaria fora da linguagem, como Coisa, Real, "a". Es..., será preciso articular como esses elementos se presentificam na experiência: como falta, buraco, ausência, furo. "Não é possível prescindir da linguagem, mesmo para falar daquilo que estaria para além ou para aquém dela."
São duas matematizações diferentes. Em Galileu, a medida, o cálculo, a quantidade, em Lacan a álgebra, a topologia dos lugares e relações, ou uma matemática das qualidades que Galileu não conheceu. Tal como Milner tenta provar, trata-se da literalização do real, que só pode ser consumada pela redução a uma abordagem estrutural.
Assim como Galileu proclama que "a natureza está escrita em caracteres matemáticos", Lacan persevera que "o inconsciente está estruturado como uma linguagem", consolidando a pertença da psicanálise ao universo infinito e contingente (grifei) da ciência moderna. Esta não será uma das afirmações fundamentais de Milner, quando une Koyré e Popper para fazer tese do doutrinal da ciência, em Lacan? Será por isto que Lacan terá que recorrer tanto a Descartes e ao sujeito da ciência da metafísica cartesiana?
"A psicanálise devia ser a ciência da linguagem habitada pelo sujeito. Na perspectiva freudiana, o homem é o sujeito preso e torturado pela linguagem".
Assim também não fala Roudinesco?
"De fato, Lacan infere que Freud não inventa nem suprime o sujeito, mas se apodera dele ali onde ele se encontra, ou seja, no rebote da perspectiva cartesiana, que inaugura, depois de Galileu, a ciência moderna. Se Freud se pretendia coperniano, Lacan se dispõe a ser galileano, extraindo a conseqüência lógica da segunda tópica." 15
Retomando uma afirmativa de Ianini: "Toda ciência tem de ser dotada de uma linguagem na qual os problemas ganham sentido". Reconhece, pois, a estratégia de redução, que mencionei alhures: em Galileu a redução da Physis ao paradigma matemático, em Lacan, a redução do campo dos fenômenos analíticos ao domínio da linguagem, numa perspetiva marcadamente estruturalista.
"O sintoma é sintoma analítico porque tem estrutura de linguagem. Os lapsos e os atos falhos - que mais tarde serão combinatórias significantes cujos efeitos simbólicos rearticulam o estado do dicionário das palavras - são, em 1953, mordaça que gira sobre a fala (lapso) e discurso bem sucedido (ato falho)."
Eis pois um Lacan extremado, que converte as figuras mais clássicas da psicanálise em termos da linguagem. "O Édipo é estruturante para o sujeito exatamente na medida em que é uma função simbólica relacionada às alianças e laços entre os sujeitos. Em Freud a figura do pai será relacionada à metáfora paterna e, consequentemente, ao significante nome do pai."
Ianini finaliza seu trabalho indagando, com pertinência, que se a linguagem tem um papel tão fundamental na releitura que Lacan faz da psicanálise, qual é a concepção de linguagem em jogo?
Mesmo que Roudinesco, sua biógrafa, diga que Lacan toma a si a tarefa de "repensar a teoria freudiana do inconsciente à luz da lingüística estrutural", ela mesma considera o texto de 1953 como um jogo de sombra e luz. "Até onde o farol da lingüística estrutural consegue iluminar a releitura lacaniana do inconsciente freudiano parece não ser uma questão supérflua".
Citando Lacan, no "Mais, ainda", já de 72/73, Ianini prossegue:
"Um dia percebi que era difícil não entrar na lingüística a partir do momento em que o inconsciente estava descoberto" e, se considerarmos a indefinição da linguagem na "fundação do sujeito, tão renovada, tão subvertida por Freud", (...) meu dizer que o inconsciente é estruturado como uma linguagem não é do campo da lingüística".
Será possível achar na vasta e fundamental obra de Jacques Lacan alguma referência, ou uma reflexão/afirmação em que a história tome relevância?
Eduardo Albornoz, psicanalista argentino, em recente trabalho, como outros de sua lavra, de excelente qualidade, com o título de "La era del Yo", ao criticar um livro publicado, ainda sem tradução para o castelhano nem para o português, estranha não só o título - "History after Lacan" - mas alguns aportes da autora, Teresa Brennan, professora na Universidade de Cambridge,
Não há dúvida no fato de que Lacan sempre deu grande importância à ligação entre a ciência e a psicanálise. Aliás, como já mencionado, talvez tenha sido o assunto mais tratado por Lacan, direta, indireta ou transversalmente. Jacques Lacan propunha que seria a ruína da psicanálise não ter em conta sua relação - diria mesmo uma dependência - com o discurso da ciência.
Grande parte do que se segue, devo ao referido artigo e às brilhantes exposições/hipóteses de Albornoz.
Surpreso por não ter nunca visto ou recordado haver lido em Lacan algo de uma era do ego, histórica, Albornoz acha um trecho, lendo de ponta a ponta a "Função e campo da fala" onde Lacan refere-se ao ego do homem moderno segundo o modelo da bela alma hegeliana e "a semelhança desta situação com a alienação da loucura (...) a saber que o sujeito, nela, mais que falar é falado(...) e logo e tão somente nos detendo na advertência de Pascal que ressoando desde a orla da era histórica do ego neste termos: "os homens estão tão necessariamente loucos que seria estar louco de outra loucura não ser louco.
Brenann diz que Lacan sugere que o ego só pode construir o mundo segundo sua própria imagem, reduzindo para ele a heterogeneidade tanto do vivente como das diversas ordens culturais(grifei)
Albornoz marca: "a teoria lacaniana de uma era do ego e uma perspectiva histórica merece atenção, não porque sustenta uma teoria da história, mas para pensar uma trajetória de modernidade." Ainda mais, "O preconceito contra as teorias totalizantes contribuíram com sérios erros para a leitura de Lacan. Um dos quais é que ele também seja lido como um pós-estruturalista, deixando de lado seu lado histórico"
Brenann refere-se ao fato de que nos últimos 20 anos foi muito difícil pensar acerca de como a história faz intercessão com a psique, devido ao fato de o estruturalismo e o posmodernismo rechaçarem as generalizações, fazendo reducionismo. Por isto a generalização, necessária para um guia de ação numa escala mais ampla, é inibida. Esta inibição, Brenann debita, antes de tudo, aos erros do marxismo, o que é uma outra história...
Por que tantos intelectuais são levados à noção de que explicar o todo é um erro? Ora, esta posição de que não podemos fazer generalizações históricas é uma posição que inibe sua própria investigação histórica.
A inexistência de uma visão histórica na teoria lacaniana do imaginário nunca é explorada, foi deixada de lado, e seus críticos apontam uma dívida com Hegel e Kojève, ou, do Hegel de Kojève .
O ego para Lacan se constitui dentro do modelo da "bella alma" hegeliana, com o "delírio da autopresunção levando ao "processo mediante o qual um julga os outros, num processo de projeção que leva à paranóia."
Albornoz sustenta que "o inovador em Lacan é o diálogo do pensamento dialético hegeliano com a análise estrutural, mas ainda que esta observação apareça explicitamente colocada, não afetou a crença comum em um Lacan a-histórico "( grifei). Mais à frente, insiste dizendo que quando Lacan fez sua crítica à psicologia do ego norte-americana, houve um ataque muito mais geral ao "american way of life".
Ora, criticar a ordem social que produziu a psicanálise do ego não significa, necessariamente, dar à história um papel relevante. Sempre segundo Albornoz, Brenann sublinha que em Lacan haveria uma concepção histórica: a idéia lacaniana da história não é da história como passado, é reescrever a história. Não enfatiza o reviver, sequer o rememorar. Albornoz inicia uma reflexão sobre a função do tempo heideggeriana, que deixaremos de considerar, por falta de tempo e lugar neste trabalho.
De toda maneira, como se trata de um texto recente, não pude estudá-lo como gostaria, além de não ter tido acesso à obra comentada. Quis trazê-lo, sobretudo, pelo inusitado do título, pelo desconhecimento, até então, da expressão "era do ego" na obra de Lacan, mas principalmente, por estar aí presente um tema chave abordando os problemas atuais da psicanálise, resumidos em três afirmações, bastante conhecidas, também constantes do artigo citado:
1. o aforismo lacaniano expressado assim: "a história é o maior dos fantasmas... não fazemos mais que dar voltas em círculos";
2. a aporia mais conhecida, "o inconsciente está estruturado como uma linguagem ", da maneira como foi inserida, dizem muitos estudiosos, nunca deu qualquer importância à historicidade do inconsciente;
3. as palavras de Freud, em várias ocasiões, assegurando que os processos do inconsciente são atemporais, ou dentro dele "nada se pode por fim, nada é passado nem está esquecido".
Tais questões não podem deixar de ser consideradas, para o exercício da clínica psicanalítica contemporânea. Mesmo como um fantasma, mesmo em círculos, a História deve ser atravessada. O Insconsciente tem história, tal como o círculo conjuntivo do Real, Simbólico e Imaginário, no cume do nó de borromeu. As palavras de Freud referiam-se a uma instância, não podendo ser generalizadas para o conjunto de sua vasta e complexa obra. Ademais, confundir o substantivo tempo ou sua negativa como se a história pudesse ser reduzida a um pé-da-letra de sincronia da lingüística estrutural é fazer uma má leitura da história da psicanálise, incluindo nela a grande obra de Lacan.
Aqui, tempo não faz metonímia para o significante História.
Notas
* Sociólogo, psicanalista, participante do Forum do CPMG.
1 in As estruturas elementares do parentesco.( grifo do autor.)
2 Aletheia, nº4
3 Georges Munin, Clefs pour la lingüistique. Ed. Seguhers.
4 idem.
5 op. cit.
6 ver págs.314/323 em Hanns. L.Alberto, in Dicionário Comentado do Alemão de Freud, Imago ed.,1966,RJ.
7 in Problèmes de lingüistique gènerale.
8 op. citada.
9 Ernst Cassirer, in La Philosophie des Lumière, Fayard ed.
10 idem.
11 Ver apresentação comentada em capa e contracapa de Antropologia Estrutural, Revista Tempo Brasileiro, nº 7, 1967, de Roberto Cardoso de Oliveira.
12 Para aprofundamento sobre o assunto, ver o imperdível trabalho crítico-histórico de nosso colega Walter José Evangelista em "Freud e Lacan, Marx e Freud", ed. Graal, 1991, RJ
Também a obra de Paul Ricoeur, sobretudo "O conflito das interpretações", Imago Editora, 197813 "Les écrits da Lacan ou retour à Freud", Le Monde, 24/12/66(grifo nosso)
14 Ianini, art. citado, pág.4.
15 História da Psicnálise na França, Roudinesco, nota nº 37 do artigo citado.